Jorge
Rafael Videla, ditador argentino, foi encontrado morto no último dia 17 de
maio, o referido indivíduo faleceu em sua cela, pois, estava preso, condenado à
prisão perpétua e destituído de sua patente militar. Entre 1976 e 1981, Videla
comandou o regime, que perdurou até 1983, ao qual se referia como
“Reorganización Nacional”, mas que para muitos é conhecido como “Guerra Suja”,
onde mais de 30 mil pessoas “desapareceram”. Videla nunca se arrependeu dos
seus atos, mas foi julgado e condenado, pois, na Argentina, as mobilizações
para punir os crimes cometidos pela ditadura se iniciaram já em 1983 e, desde
então, foram condenados mais de 200 militares e civis envolvidos em situações
como os “voos da morte” ou o sequestro de crianças.
Diante
do fato, percebe-se a dimensão traumática que o regime de exceção teve e tem na
sociedade argentina, bem como suas implicações. Partindo daí, é interessante
refletir sobre as consequências das ditaduras na América Latina e sobre o modo
através do qual as sociedades afetadas por elas tratam a sua memória relativa ao
tema. No Brasil, há quem diga que o regime de 21 anos (1964-1985) foi uma
“ditabranda”. Maldade, inocência, ignorância ou um misto dos três, nunca se
sabe qual a verdadeira intenção por trás de uma declaração tão infeliz, o que
se sabe é que ela demonstra, em certa medida, o modo como nossa sociedade
encara a ditadura brasileira. Aqui, a memória sobre os anos de chumbo parece
ser turva, obscura e, ao mesmo tempo, suavizada através de muitas ações e
discursos.
Abertura,
Lei de Anistia, transição democrática, Diretas Já e uma Constituição forjada
pelos herdeiros de uma cultura política baseada na violência e na garantia de
monopólios econômicos, midiáticos e jurídicos. Estes são alguns dos processos
que caracterizaram os anos subseqüentes ao período negro do regime ditatorial
brasileiro que, para fechar praticamente uma década, pode ser delimitado entre
1968 (AI-5) e 1979 (início do governo Figueiredo). Atentando para este
processo, percebe-se que a “ditabranda” não foi concebida como tal, mas, ao
longo dos anos, foi um quadro assim emoldurado por Estado e sociedade durante um
processo de transições extremamente traumático nos sentidos político, jurídico
e econômico.
Quase 50 anos depois do
golpe de 1964 no Brasil, chocam-nos os depoimentos na Comissão Nacional da
Verdade, criada em 2012 para revolver a memória do país entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de
1988. A Comissão não tem poderes para julgar e não vai condenar nenhum
torturador, entretanto, ela pode e deve servir para trazer à baila algumas
nuances do processo de “abrandamento” da nossa pesada ditadura e revelar o quão
traumático e nocivo foi o regime de exceção no Brasil. Deve servir também para
que, daqui a algum tempo, os restos mortais de vis torturadores sejam
rejeitados pela população de sua cidade natal no momento do seu enterro, a exemplo
dos protestos que ocorreram em Mercedes, cidade natal de Videla. Deve servir
para que não mais ergamos monumentos ou nomeemos ruas em homenagem a pessoas
que jamais conseguiram ultrapassar o limite do sadismo, torturando e matando sob
a tutela do Estado.
Só pode ser PTista.
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