A lógica perversa da Democracy Party
“Ô abre alas que eu quero passar
(...)”....
Ultimamente,
tem sido um deleite passear pelas ruas da cidade. Projetos de confete e
interesses de serpentina inundam os ânimos da urbe em votivas promessas que
mais parecem amor de carnaval. É a festa da democracia, um acontecimento que
mobiliza nossos concidadãos, pelo menos, a cada dois anos.
Diante de tão Cesário fato, os
ciclos estruturais da nossa política parecem repetir antigos vícios. O processo
eleitoral, que ocorre no nosso querido país-continente, é encarado sob uma
perversa lógica circense. Empurra-se algo que poderíamos chamar de “piada
impressa” a uma população que, por sua vez, sente-se hipnotizada diante de uma
enxurrada de conceitos. Palavras que, maquiavelicamente, preenchem o espaço semântico
da nossa infante experiência eleitoral do pós-ditadura: democracia, povo, partido,
oposição. Falam até em uma fantasiosa ficha limpa.
A partir do problema, caçar bruxas é um esporte de extrema dificuldade, sobretudo quando
as bruxas parecem fadas-madrinhas. Torna-se uma tarefa hercúlea procurar os
culpados pela lamentável situação do nosso processo eleitoral. Neste sentido,
apenas vislumbra-se um jogo onde mensageiros de todas as cores passam o dia a
se apontar, como se seus mentores proviessem de um ficheiro sem rasuras ou
borrões. Importam apenas os mimos, concretos ou abstratos. Salvo em raras exceções,
passa-se o dia a desferir acusações, reforçando promessas vazias e códigos
morais insustentáveis. Projetos que se desvencilham de debates basilares para
uma dinâmica social mais afeita aos direitos que, em tese, seriam prerrogativas
básicas garantidas constitucionalmente aos indivíduos.
No
final, a “Democracia” abraça cada cidadão por alguns meses, em um jogo de pura
alegria. O problema é que, por mais que ela queira viver com todos, parece
sempre voltar para seus verdadeiros esposados, que nós, pobres amantes, definitivamente
não conhecemos. Ou conhecemos alguns, ignoramos outros e não podemos ver
muitos.
O
saldo dessa querela é que no próximo carnaval, quando sairmos procurando a
Democracia, entoaremos em tristeza: “Mas chegou o carnaval e ela não desfilou”. Parece que essa festa vai deixar uma
incômoda ressaca de Democracia.