Sentar-se
na frente da televisão, em um domingo à tarde, no alvorecer de um semestre
tropical quente e úmido, é um exercício de reflexão sobre a nossa condição,
individual e coletiva, política e cultural, de participação em um processo de
construção da cidadania, enquanto um sustentáculo estrutural do que ainda
podemos chamar de Estado, e sociedade, nacional. No momento da hecatombe
dominical que coroa o espetáculo da grande mídia, percebemos um mundo integrado
por utopias digitais que, por sua vez, obstaculizam a viabilidade de avanço no
que tange a uma mudança de rumos nos cenários político, econômico e social, bem
como uma melhor compreensão dos processos históricos que englobam e compõem nossa
difusa identidade cultural.
É triste perceber como o brasileiro
é mal representado, tanto no que se refere a uma questão semiótica e imagética,
quanto no sentido da opinião pública. Partindo da noção de que a programação
ventilada pelos grandes conglomerados de telecomunicação carrega um discurso
sobre o brasileiro e pretende ser portadora de algumas demandas deste mesmo
povo, ao mesmo tempo em que pretende trazer algumas balizas formativas e
informativas do que muitos querem chamar de realidade nacional, o cenário é
desolador.
No
plano das questões sócio culturais, o Brasil parece rir de si mesmo a
todo tempo e tem-se a ideia de uma nação unida sob a bandeira do jeitinho,
modo de vida transcendente e inquestionável. O discurso que subjaz a este
jeitinho reproduz preconceitos e hierarquias, além de legitimar espaços de
poder e dominação que reproduzem preconceitos e desigualdades históricas evidentes. Relacionado a tal ode ao
jeitinho, no plano das questões que envolvem opinião política e (auto) crítica,
existe um mal estar generalizado com uma genérica e indecifrável corrupção,
somado a uma omissão voluntária diante da necessidade de debates minimamente fundamentados
e coerentes, que revelem as possibilidades reais de enfrentamento da natureza
de alguns problemas sociais.
Entretanto, seria muito pedir um
aprofundamento das reflexões sobre a natureza dos problemas sociais, sobretudo
em uma tarde quente de domingo. É melhor
ficar no plano da filantropia mafiosa que emana do baronato midiático, turvando
a possibilidade de reflexão e cimentando a imbecilidade com seu concreto de
conservadorismo e falsa moral. Se pelo menos morássemos em um país rico e
diverso, repleto de conflitos e, por isso mesmo, candente de um aprofundamento
nas respostas para a compreensão de seus problemas. Mas, não, moramos em um
reino de bobos da corte, de reis desnudos, de anemia política e de anomias (des)encantadas.
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