quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Imprensa e jornalismo: entre as mídias e as médias do “cidadão de bem”

“Quem reflete um pouco sobre o espírito do século atual, e especialmente do Brasil de 1832 pra cá, para horrorizado diante desse aviltamento da espécie humana, diante desse frio egoísmo, dessa abnegação de toda a idéia nobre que capeando-se com o nome de industrialismo, de positivismo da existência, só dá valor á uma couza, ao dinheiro”.
     Sábias palavras advindas daquele parcialmente “incorreto” jornalismo de outrora. Apesar de todas as mudanças ocorridas nos quase duzentos anos passados, desde a supracitada data até nossos dias, algumas semelhanças foram zelosamente preservadas pela “espécie humana” e, aproveitando o ensejo do excerto, por nossa tão imparcial e politicamente correta mídia “Global”, mundialmente integrada e comprometida com os valores, que a gente vê por aí, da cidadania. Assim, passando os olhos pelas folhas periódicas da infância de nossa imprensa, me vieram à mente essas linhas no intuito de repensar o papel do jornalismo após dois séculos de sua existência nas terras tupiniquins.
               Antes de tudo, faz-se importante salientar as mudanças ocorridas no exercício da divulgação de informações e de notícias, tais como a diversificação das suas formas de veiculação, o seu crescimento quantitativo e até mesmo o acesso do público aos conteúdos discutidos. Quando da gênese da imprensa no Brasil, tínhamos apenas jornais impressos, poucos eram diários, muitas vezes declaravam-se veementes defensores de grupos políticos, pois, assim como hoje, eram financiados por pessoas articuladas em torno de determinados valores acerca do público e do privado. Importante é também salientar o fato de que a nossa imprensa não era constituída por grandes conglomerados econômicos visando principalmente o lucro, assim, a propaganda não tomava conta da metade das páginas – uma pena porque, à época, a maioria da população era iletrada, todos iriam adorar as figuras de celulares e carros. Enfim, para além de todas essas diferenças, o mais marcante seja talvez o fato de que a política era desejada naquelas páginas, seus redatores posicionavam-se, batiam, rebatiam, tentavam uma imparcialidade logo desmascarada por qualquer elogio explícito ou crítica descabida a um parlamentar, a um “colega” de profissão ou mesmo ao Imperador. Parece que as coisas mudaram, a maquiagem empastelada coloriu as páginas e as telas, travestiu-as de reis e rainhas e tornou a prerrogativa da imparcialidade uma falácia repetida e perigosamente crível aos desavisados.
          Assim,depois da aparição dos nossos queridos “Citizens Kanes” pelo mundo, a imprensa se modificou. A gravata de jornal foi cada vez mais lavada e a política foi ficando turva e encardida em proporção direta. Hoje, temos um público, politicamente apático, com opinião formada por pessoas que sequer conseguem enxergar além do “frio egoísmo” e da “couza do dinheiro”, muitos destes formadores de opinião são tão desinformados que realmente não conseguem pensar o que é o Estado, a sociedade, as organizações privadas, ou seja, não conseguem fazer aquilo a que eles se propõem. Muitos outros têm plena consciência do processo, mas, não podem se dar ao trabalho de tentar formar realmente opinião, fazer pensar. Sem saudosismos, pelo menos os rabos presos de outrora, talvez por serem maiores, apareciam, mostravam a que vinham e o que queriam. Os tempos mudaram...
   As caudas de hoje parecem ser menores, ou quem sabe aquele estúdio enorme serve para escondê-las? E, para terminar com ares de democracia, uma epígrafe do tempo onde essa senhorita era vista com maus olhos: “Há no mundo quem tenha mais juízo que Voltaire, mais força que Napoleão – é o povo”. Pois bem, há no mundo quem tenha mais juízo e força que o povo – é o “Citizen Kane”... Estamos procurando por este “cidadão de bem”, ele é um ser político e muito esperto... 

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