Para aqueles que
pensam a religião e a política como assuntos que não devem ser discutidos, só
posso pedir que parem por aqui. Digo isso porque penso de maneira
diametralmente oposta. Os temas devem ser discutidos e relacionados, pois estão
na base da história do ocidente judaico-cristão, da qual fazem parte o Brasil,
toda a América Latina e grande parte do globo.
Ontem,
13 de março, a Santa Sé “elegeu” um novo líder, que é líder político e
religioso. Em meio a um conclave aos moldes medievais, 115 cardeais escolheram
como sucessor do espertíssimo Bento XVI, o argentino Jorge Bergoglio.
Ironicamente intitulado Francisco (só pode ser ironia), Bergoglio é acusado
de ser conivente com operações da pesada ditadura militar que assombrou a
Argentina entre 1976 e 1983. É claro que seria muito esperar que daquela turma
saísse alguém de reputação ilibada, de todo modo é preocupante o fato do novo
pontífice ser um latino-americano ligado a círculos políticos dos mais escusos
que se possa imaginar.
Tudo
isso ocorre em um momento onde os governos sul-americanos – dentre eles a
Argentina – debatem e deliberam sobre questões candentes na pauta dos direitos
relativos às liberdades individuais (direito homoafetivo, aborto em alguns
casos, política de uso de drogas, Ley de Medios). Ocorre também em um momento
onde as crises internas à Igreja Romana se revelam cada vez mais agudas, tendo
a perda de fiéis como uma das implicações mais preocupantes para a Santa Sé.
É
aí que vem a pergunta, a escolha de um bastião do conservadorismo argentino
para o cargo de líder máximo da Igreja seria coincidência? Creio que não. Essa
escolha revela o embate entre sociedades, projetos políticos e instituições muito
diferentes. De um lado, a Igreja Católica Apostólica Romana, uma instituição
milenar, européia e conservadora, falida moralmente e visivelmente diluída em
seu próprio interior. Do outro lado, a sociedade latino-americana que, apesar
de todas as suas mazelas, aprende aos poucos a caminhar com as próprias pernas,
debater e deliberar sobre seus próprios problemas, depois de séculos de
colonização (católica), ditaduras (apoiadas por setores da Igreja) e opressão.
Diante
da questão, política e religião se encontram, estão de mãos dadas, sobretudo em
países de tradição ibérica, colonizados sob a ética (ou a falta dela) do
catolicismo Romano e europeu. Nestes países, como Brasil e Argentina, a
participação de grupos religiosos no cenário político é um fato incontestável e
muito claro aos que tiverem a boa vontade de estudar um pouquinho de história.
É claro que os projetos políticos articulados pelas hostes da Igreja não foram
consensuais – talvez nunca tenham sido na história da instituição, pelo menos
no Brasil. Por outro lado, constituem um fato e influenciam diretamente, para
bem ou para mal, os cenários político, econômico e social de países
fervorosamente cristão como os latino-americanos.
Pelo jeito, a América anda muito assanhada,
seus governantes estão passando dos limites. Aborto, por exemplo, só pode na
Europa (inclusive na Itália). Enquanto isso, nos corredores do Vaticano, parece
aumentar o número de adeptos das práticas pedófilas. “Faça o que eu falo, mas
não faça o que eu faço”... Seria esse um mandamento cristão escondido pela
cortina de fumaça da Capela Sistina?
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